Justiça condena a 9 anos de prisão policial civil por estupro dentro de cadeia em Paulínia
11/12/2025
(Foto: Reprodução) Policial civil trabalhava no 10º DP de Campinas
Reprodução/EPTV
A Justiça condenou a 9 anos de prisão em regime fechado um policial civil pelo estupro de uma mulher dentro da cadeia de Paulínia (SP). A decisão do caso que tramita em segredo de justiça foi proferida em agosto, publicada em dezembro pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), e o g1 teve acesso à sentença nesta quarta-feira (10). A defesa disse que vai recorrer.
Em sua sentença, a juíza da 2ª Vara do Foro de Paulínia pontuou que a versão apresentada pelo réu não demonstrou coerência, enquanto o depoimento da vítima foi coeso em todas as oportunidades, além de possuir amparo nas demais provas, entre elas, dois laudos periciais.
Um atestou ser possível a passagem de um braço e a passagem de um rosto humano pelas aberturas da cela, o que permitiria a imobilização pelo pescoço da vítima, e a mordida no seio relatado pela detenta, e o outro, de lesão corporal, constatou lesão na mama esquerda.
Além da condenação a 9 anos de prisão pelo crime de estupro, a Justiça condenou o policial ao pagamento de R$ 55 mil de indenização por danos morais à vítima. O policial, que não estava preso, vai poder recorrer em liberdade.
"A defesa recebeu com muito espanto uma decisão condenatória em razão dos elementos de provas que foram produzidos no processo e vai apelar no sentido de reverter [a decisão] no Tribunal de Justiça", disse o advogado que representa o policial.
O g1 procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para comentar a condenação do policial, e a reportagem será atualizada assim que a pasta se manifestar.
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Relembre o caso
O caso ocorreu em março de 2023. A mulher, que respondia por tentativa de estelionato à época, havia comparecido ao 10º Distrito Policial (DP) de Campinas (SP) e, em seguida, sido transferida para a Cadeia de Paulínia, onde aguardava audiência de custódia.
Quatro meses depois, a vítima, que preferiu não ser identificada, falou pela primeira vez em entrevista exclusiva ao g1 e relatou uma rotina de medo, apreensão e tentativas de superar a violação com o apoio da família e de profissionais de saúde mental.
"Ele acabou com a minha vida. Eu não tenho mais esperança que nem eu tinha, não tenho mais sorriso. Tudo que eu vou fazer, se eu vou comer, eu lembro do que aconteceu. Eu não consigo dormir mais, hoje eu tomo seis tipos de remédios por dia, porque se eu não tomar eu não consigo viver", desabafa.
Ainda em março, após as primeiras investigações, a Justiça expediu um mandado de prisão temporária contra o policial, que também era investigado pela corregedoria e Polícia Civil. Recentemente, no dia 5 de julho, o homem foi solto após um habeas corpus.
O relato
Na noite do dia 7 de março, a mulher relata ter sido surpreendida por um policial do 10º DP na carceragem - o mesmo que havia coletado suas impressões digitais. Foi então que, de acordo com a vítima, teve início uma noite de abusos e torturas psicológicas.
"Todo o tempo ele estava me enforcando na grade. Ele estava com uma arma na cintura e falava que estava armado, encostava a arma o tempo inteiro em mim. Ele ficava falando no meu ouvido 'eu vim de lá até aqui para te ver'. Era meu aniversário e ele ficou cantando parabéns no meu ouvido", relembra.
Depois do estupro, o policial teria solicitado o número de telefone da mãe da vítima e feito uma ligação dizendo que "estava cuidando muito bem" da filha dela. Ainda de acordo com a mulher, ela chegou a gritar e pedir socorro, mas ninguém apareceu até a manhã seguinte.
"Assim como ele fez comigo, ele pode fazer com qualquer pessoa, pode fazer com criança. Isso se já não fez com algum familiar. Ele não fez isso pela primeira vez. Ele é muito experiente no que faz, não estava nervoso, estava com uma tranquilidade de quem faz sempre e nunca deu em nada", diz.
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