Departamento de Medicina da Unicamp pede que autarquização da saúde seja retirada da votação: 'Precisa ser mais discutida'
17/12/2025
(Foto: Reprodução) Após protestos, votação sobre autarquização da saúde da Unicamp é suspensa duas vezes
Após a suspensão da votação do plano de autarquização do complexo de saúde da Unicamp no Conselho Universitário (Consu) devido aos protestos que aconteceram nesta terça-feira (16), o Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da universidade publicou uma nota pedindo a retirada do tema da pauta do Consu, nesta quarta-feira (17).
Já na quinta (18), e em posição contrária à do Departamento de Saúde Coletiva, o diretor da Área da Saúde, Luiz Carlos Zeferino, defendeu que o projeto é discutido desde 2009 em fóruns com a participação do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU) - leia aqui.
🔎A autarquização da saúde da Unicamp transformaria hospitais e unidades de saúde da universidade em uma entidade com gestão e orçamento próprios, separada da administração central — saiba mais aqui.
O que diz o Departamento de Saúde Coletiva
O órgão pede que o debate seja aprofundado com toda a comunidade acadêmica, a fim de evitar que:
Que recursos públicos, construídos com dinheiro público, sejam privatizados;
Que ocorram processos de terceirização e precarização do trabalho;
Que tais fatores comprometam a qualidade dos serviços de saúde;
Queda da qualidade de ensino e pesquisa da universidade.
Acesse a nota completa aqui.
Desde segunda-feira (15), de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, cerca de 30% dos servidores de saúde estão paralisados por conta da votação do plano pela comunidade acadêmica.
A votação será retomada, em caráter extraordinário, nesta quinta-feira (18), em formato remoto, a partir das 15h, segundo a reitoria.
❌Polêmica: Enquanto a reitoria e parte da comunidade acreditam que a autarquização irá desafogar o orçamento da universidade e atrair investimentos, servidores e parte da comunidade acadêmica afirmam que o plano irá precarizar os trabalhos e a qualidade do atendimento e do ensino — entenda mais abaixo.
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Ao g1, o chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Sérgio Roberto de Lucca, afirmou que o tema "precisa ser mais discutido" com a comunidade, em vez de acelerar a votação sem ter princípios importantes garantidos. Veja abaixo os pontos elencados por Lucca.
Gestão dos recursos públicos
Segundo o chefe do departamento de Saúde Coletiva, que possui um histórico na fundação e defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), a autarquização tira da universidade o poder de gerir os recursos na área da saúde.
"Isso é uma questão de princípio, porque nós entendemos que nós, como universidade pública, um hospital público, devemos brigar para que tenha recursos públicos e que nós podemos fazer a cogestão desses recursos", afirma Lucca.
Um dos princípios do departamento é que o SUS e os hospitais unviersitários devem ter uma gestão pública.
Segundo ele, a gestão de instituições privadas poderia mudar o foco do SUS que é a universalidade do atendimento "para atender todo mundo com a melhor qualidade possível" para a preocupação com o lucro.
Precarização do trabalho e fala de qualidade de ensino
De acordo com Sérgio Roberto de Lucca, a votação não pode ser feita "como uma caixa preta".
"Os quase 4 mil funcionários que são da área de saúde têm uma insegurança com razão. A gente tem medo de precarização, de pejotização, de não ter um plano de carreira, desse gerencialismo que pode vir dinheiro para investimento, mas que deixa descoberto a questão da vida dos servidores, trabalhadores, profissionais de saúde do hospital", questiona o diretor.
Além disso, Lucca afirma que, a depender dos moldes em que os sistema seja implantando, também pode prejudicar o ensino, uma vez que o complexo também atua como hospitais-escola, nos quais os estudantes atuam.
O que diz a direção da Área da Saúde da Unicamp
Em carta publicada no site da Unicamp, o diretor-executivo da Área da Saúde, Luiz Carlos Zeferino, defende que a ideia de transformar a área da saúde em autarquia é discutida há 16 anos e questiona se um novo adiamento da votação para discutir o tema "mudaria, de fato, a posição do sindicato?"
Além disso, Zeferino usa como referência um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo para argumentar que, ao contrário do debate realizado em 2009, as "estratégias hoje adotadas incluem a disseminação de fake news, a distorção deliberada de informações e a invasão de reuniões de colegiados, sempre que os resultados, obtidos segundo regras institucionais e democráticas, não atendem a seus objetivos".
Para Zeferino, alguns sugerem esperar as eleições de 2026 para "não entregar o projeto de autarquização da área da saúde ao governador Tarcísio".
"Creio eu, para evitar vantagens políticas. Isso posto, entendo que estas pessoas percebem que o projeto tem méritos, mas, por razões políticas, querem protelar seu encaminhamento, alegando que a discussão foi insuficiente ou algo semelhante, mesmo sendo o assunto conhecido e discutido há cerca de 20 anos", reflete.
"Enfim, em última instância, deve caber ao Consu da Unicamp decidir, aprovar ou rejeitar o projeto, de acordo com o senso de cada um de seus membros presentes. Para isso, porém, o Consu precisa se reunir e saber que a sociedade, principal usuária do SUS e financiadora da Universidade, espera de nós o cumprimento do que está legalmente instituído", conclui Zeferino.
Impactos financeiros e para servidores
Segundo a Unicamp, com a autarquização, cerca de 17% do orçamento — equivalente a R$ 1,1 bilhão — deixaria de ser destinado à saúde. Esses recursos seriam direcionados para expansão acadêmica, criação de novos cursos e infraestrutura.
O plano prevê que a Secretaria de Saúde assuma gradualmente os custos da área. A partir de 2028, o custeio operacional ficaria sob responsabilidade da pasta, e o pagamento integral dos servidores ocorreria a partir de 2031.
O documento afirma que os servidores manteriam benefícios como auxílio-transporte, vale-refeição, auxílio-criança, vale-alimentação e auxílio-saúde, além da possibilidade de participar de processos formativos e de progressão na carreira.
Plano de expansão acadêmica
Na proposta, a universidade sugere que os recursos que seriam liberados com a autarquização da área da saúde sejam investidos em um plano de expansão acadêmica. O orçamento seria direcionado aos seguintes pontos principais:
criação de novos cursos de graduação e pós-graduação, com a abertura de 1.100 novas vagas até 2030
as novas vagas seriam criadas em cursos como Medicina, Inteligência Artificial, Ciência de Dados, Energia, Engenharia Biomédica, Psicologia, Fisioterapia e Direito
contratação de docentes e novos funcionários técnico-administrativos
modernização curricular
infraestrutura dos campi
Unicamp
Reprodução/EPTV
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