13 novas espécies de aves marinhas são registradas no litoral de São Paulo
01/12/2025
(Foto: Reprodução) Calcamar (Pelagodroma marina) é encontrado nas águas do norte e sul do Atlântico, norte e sul do Pacífico e no Oceano Índico
ritchie0801/iNaturalist
Uma revisão científica inédita ampliou o conhecimento sobre a avifauna oceânica paulista e confirmou 13 novas espécies de aves marinhas no estado de São Paulo. O levantamento eleva para 68 o total de espécies registradas ao longo do litoral e representa a atualização mais completa já realizada sobre o grupo no Sudeste brasileiro.
O estudo foi publicado na revista Papéis Avulsos de Zoologia (USP) e integra a dissertação de mestrado de Robson Silva e Silva (CLP–UNESP), sob orientação de Edison Barbieri (Instituto de Pesca – SAA/SP), em colaboração com o pesquisador Fábio Olmos.
A gaivota-de-sabine (Xema sabini), também conhecida de alcatraz-de-cabeça preta, é uma pequena gaivota do ártico, incomum e distinta que voa em latitudes elevadas, mas no invernos aproxima-se dos trópicos
Peter Kappes/iNaturalist
A revisão reúne registros acumulados ao longo de mais de um século e reúne informações obtidas em coleções científicas, programas de monitoramento ambiental e plataformas de ciência cidadã.
Novas espécies para São Paulo
Entre as 13 espécies adicionadas à lista paulista estão aves oceânicas raras e pouco registradas no Brasil, como o Pelagodroma marina (calcamar), Xema sabini (gaivota-de-sabine), Chlidonias niger (trinta-réis-negro) e Phaethon aethereus (rabo-de-palha-de-bico-vermelho). Veja a lista completa abaixo:
Gaivota-de-sabine (Xema sabini)
Trinta-réis-negro (Chlidonias niger)
Trinta-réis-negro-de-asa-branca (Chlidonias leucopterus)
Rabo-de-palha-de-bico-vermelho (Phaethon aethereus)
Calcamar (Pelagodroma marina)
Grazina-delicada (Pterodroma mollis)
Pardela-de-asa-larga (Puffinus lherminieri)
Gaivota-cinzenta (Leucophaeus modestus)
Trinta-réis-das-rocas (Onychoprion fuscatus)
Atobá-de-pés-vermelhos (Sula sula)
Pardela-cinza (Procellaria cinérea)
Faigão-de-bico-largo (Pachyptila vittata)
Faigão-de-bico-curto (Pachyptila turtur)
Atobá-de-pés-vemelhos (Sula sula) é estritamente marinho e em grande parte pelágico
Jay Baumann/iNaturalist
Segundo o pesquisador Edison Barbieri, um dos autores do estudo, os novos registros revelam a complexidade do litoral paulista.
“As espécies recém-identificadas mostram que nossas águas são usadas tanto por aves residentes quanto por migrantes que cruzam grandes distâncias no oceano. Esse conhecimento atualiza o mapa da avifauna marinha no estado e amplia nossa compreensão das rotas utilizadas no Atlântico Sul”.
O trinta-réis-negro-de-asa-branca (Chlidonias leucopterus), também conhecido como gaivinas-d’asa-branca, é encontrado como vagante para a América do Norte e passa o inverno na África
lance_robinson/iNaturalist
A presença de espécies subantárticas e de migrantes do Ártico chama a atenção dos pesquisadores. Barbieri destaca, por exemplo, o registro do petrel-gigante-do-sul (Macronectes giganteus), que confirma a passagem da espécie pelas águas de São Paulo.
Outro caso importante é o do mandrião-do-sul (Puffinus gravis), cujas ocorrências indicam conexões migratórias entre colônias reprodutivas das Malvinas e áreas de alimentação no Sudeste brasileiro.
Como o levantamento foi construído
A revisão integra dados de:
Coleções ornitológicas brasileiras e estrangeiras;
Revisões taxonômicas recentes;
Bancos de dados de anilhamento;
Plataformas de ciência cidadã (WikiAves e eBird);
Informações inéditas do Programa de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), conduzido pelo IBAMA e PETROBRAS.
Ao reunir diferentes fontes, os pesquisadores consolidaram 68 espécies de aves marinhas para o estado - 18 residentes e reprodutivas no Brasil e 50 migratórias provenientes do Hemisfério Norte e Sul.
Por que essas descobertas são importantes
O litoral paulista é uma área de alimentação e descanso para aves que percorrem grandes distâncias oceânicas. Além disso, 35% das espécies registradas no estado apresentam algum grau de ameaça em listas globais, nacionais e estaduais.
Grazina-delicada (Pterodroma mollis) costuma visitar águas costeiras da Argentina, Uruguai, Brasil, Namíbia, África do Sul, Moçambique, Austrália e Nova Zelândia
Oscar Thomas/iNaturalist
Barbieri ressalta que os novos dados fortalecem estudos futuros e orientam decisões ambientais: “Essas informações atualizadas ajudam instituições a definir áreas prioritárias, revisar planos de manejo e aprimorar protocolos de acompanhamento de fauna. São bases fundamentais para pesquisas sobre distribuição, ecologia e rotas migratórias”.
Contribuição da sociedade
O estudo também mostra que observadores de aves têm papel importante no avanço do conhecimento. Registros fotográficos de observadores independentes ajudaram a confirmar algumas das novas espécies listadas.
O rabo-de-palha-de-bico-vermelho (Phaethon aethereus) pode atingir velocidades de 44 quilômetros por hora quando em voo sobre o mar, viajando a um mínimo de 30 metros acima do nível da água
alcedo77/iNaturalist
“Plataformas como eBird e WikiAves já contribuíram muito para esta revisão. A participação da população continua sendo valiosa para identificar ocorrências, registrar comportamentos e apoiar pesquisas sobre a avifauna marinha”, afirma Barbieri.
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